segunda-feira, 12 de maio de 2025

1% mais rico da população do Ceará ganha 21 vezes mais do que os 40% mais pobres

Foto: Agência Brasil

O Ceará enfrenta um grande abismo social: o 1% mais rico dos habitantes possui um rendimento médio mensal, em média, 21 vezes maior do que o dos 40% mais pobres. A informação foi divulgada na quinta-feira (8) pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Em 2024, enquanto essa parcela das famílias mais ricas recebeu, em média, R$ 12.123 por pessoa a cada mês, os mais vulneráveis sobreviveram com apenas R$ 581. Nesse estrato social, a renda per capita (por pessoa) pode partir de R$ 94 e atingir, no máximo, esse valor médio.


No Brasil, a diferença de renda entre os mais abastados e os mais pobres chega a 23,5 vezes; no Nordeste, essa disparidade é ainda maior, alcançando 24,3 vezes.


Ceará tem a segunda menor renda média do País 

Em 2024, o Ceará registrou um dos menores rendimentos médios domiciliares per capita entre os estados brasileiros, ficando atrás apenas do Maranhão.


O ganho mensal real de todos os trabalhos das pessoas ocupadas no Ceará foi de R$ 2.071, valor 35,7% inferior ao rendimento médio nacional de R$ 3.225.


O que esses números significam 

O economista João Mário de França, professor do Programa de Pós-Graduação de Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador da FGV IBRE, analisa que, embora se observe uma considerável desigualdade na distribuição de renda, o Índice de Gini para o rendimento domiciliar per capita no Ceará apresentou uma redução, indicando uma menor desigualdade. 


O Índice de Gini é uma medida estatística, com variação entre 0 e 1; quanto mais próximo de zero, mais igualitária é a distribuição de renda. No Ceará, o índice caiu de 0,51 em 2023 para 0,49 em 2024, sinalizando melhora nesse aspecto, apesar da persistente disparidade nos extremos da distribuição de renda.


“Essa queda foi mais acentuada do que a média nacional no mesmo período de comparação. A questão da melhoria contínua na educação que ocorre no Estado é a mais importante política pública de longo prazo para a redução tanto da pobreza quanto da desigualdade”, avalia.’


“No entanto, isso ainda levará algum tempo para ser percebido de maneira mais clara, já que ainda temos um contingente muito grande da população no mercado de trabalho com pouca escolaridade/qualificação e, portanto, auferindo baixos salários”, completa, destacando que cerca de 40% da população cearense acima de 25 anos tem o ensino fundamental incompleto, evidenciando o enorme desafio para esse público.


O economista e consultor Lauro Chaves, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), acrescenta que a desigualdade de renda extrema é um dos maiores desafios do Brasil e do Ceará.


“Quando falamos em extrema desigualdade, estamos diante de um problema social, pois, quando a desigualdade é extrema, grande parte da população é excluída das condições básicas de vida. Temos também um problema de mercado. Ao distribuir melhor a renda, você fortalece o mercado interno, o comércio vende mais, e, vendendo mais, encomenda mais da indústria. Assim, a roda da economia cresce”, observa.


O que fazer para mudar essa realidade

Em 2024, 15,6% da população do Ceará recebia rendimento proveniente de programas sociais, uma proporção superior à média nacional, que é de 9,2%. Por outro lado, 12,8% dos cearenses tinham rendimento de aposentadorias e pensões.


França observa que a participação dos programas sociais na composição da renda mensal domiciliar per capita no Ceará aumentou de 9,7% em 2023 para 10,2% em 2024.


Esse também valor está bem acima da média nacional, de 3,8%, e supera a média da região Nordeste, de 9,4%. “Portanto, esse mecanismo de transferência de renda já está no seu limite, também devido ao difícil quadro fiscal enfrentado pelo governo federal”, sublinha o economista.


“O importante, em termos de políticas públicas para reduzir a desigualdade, é persistir nos avanços na melhoria da qualidade da educação pública, focar nas famílias de baixa renda, tanto no acesso à saúde e ao saneamento, quanto em investimentos para o desenvolvimento infantil das crianças (na etapa tão importante da primeira infância) desses lares", destaca.


Além disso, acrescenta, para a parcela da população que já está no mercado de trabalho e possui baixa escolaridade, é essencial oportunizar cursos de treinamento e requalificação voltados para as demandas atuais do mercado. Segundo ele, é fundamental acompanhar de perto as políticas públicas, permitindo ajustes sempre que necessário para alcançar os resultados desejados.


Para Chaves, a redução da desigualdade de renda, especialmente entre os mais vulneráveis, vai além da simples distribuição de recursos. O economista explica que a verdadeira mudança ocorre por meio da promoção da igualdade de oportunidades, com o acesso à educação - incluindo a profissional inclusiva - ao fomento ao empreendedorismo e à melhoria das infraestruturas, tanto nas periferias quanto nas cidades menores.


Dessa forma, avalia, será possível diminuir a desigualdade extrema, gerando benefícios sociais e econômicos, com o fortalecimento do mercado interno.


Fonte: Diário do Nordeste

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