Araripina (PE) – A chegada da Ferrovia Transnordestina ao polo gesseiro pernambucano pode reduzir custos logísticos, ampliar a competitividade do setor e atrair novos investimentos para a região do Sertão do Araripe. O tema foi central no seminário Conexões Transnordestina, realizado nesta quinta-feira (14/08) pelo portal Movimento Econômico. Sudene marcou presença no evento, que reuniu, no município, lideranças públicas, empresariais e comunitárias para discutir propostas associadas à implantação da ferrovia.
Através dos recursos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), a Sudene é a principal financiadora do traçado que liga Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE). A Autarquia também atua na articulação de agentes públicos e privados para viabilizar o trecho pernambucano até o Porto de Suape — previsto no projeto original e atualmente sob responsabilidade do Governo Federal, com recursos do Orçamento Geral da União. No evento, a Superintendência reforçou que a ferrovia, em toda a sua extensão, é estratégica para fortalecer cadeias produtivas do interior nordestino, como a do gesso.
“A Transnordestina vem para aumentar a competitividade do gesso produzido no polo. A complementação modal é essencial para adequar a logística e reduzir custos operacionais. Ouvir agentes públicos, privados e representantes da sociedade faz parte da atuação da Sudene para impulsionar avanços de infraestrutura que geram desenvolvimento”, afirmou o economista e coordenador-geral de Estudos e Pesquisas da autarquia, José Farias.
O traçado da ferrovia que recebe recursos da Sudene corta o município de Trindade, que integra o arranjo produtivo de gesso. Composto por 510 indústrias - entre mineradoras (55), beneficiadoras e calcinadoras (185) e fábricas de pré-moldados e artefatos de gesso (270) - o polo gesseiro do Araripe responde por quase 95% da produção brasileira de gipsita, gesso e derivados. A região, formada pelos municípios de Araripina, Trindade, Ipubi, Ouricuri e Bodocó, abriga reservas de alta pureza e é reconhecida como Arranjo Produtivo Local (APL) pelo potencial econômico e pela integração de sua cadeia produtiva. Segundo o Sindicato das Indústrias do Gesso de Pernambuco (Sindusgesso), o setor gera 3.582 empregos diretos e 14.328 indiretos.
Porto seco e matriz energética
Entre as propostas discutidas no encontro, destacou-se a criação de um porto seco no Araripe - terminal intermodal integrado a ferrovias e rodovias para desembaraço aduaneiro, armazenamento e transbordo de cargas. De acordo com o presidente da Agência do Desenvolvimento Econômico e Social do Araripe (Adesa), Daniel Torres, a estrutura pode atrair novos negócios e reduzir custos de transporte para diferentes cadeias produtivas. “Estamos numa posição estratégica, próximos a Teresina (PI), Fortaleza (CE) e Recife (PE), além da região do Matopiba e de polos de produção de ovos, frangos, leite e frutas. Podemos nos tornar um hub logístico para o fornecimento de gipsita, calcário e gesso, entre outros produtos. O porto seco será peça-chave nesse cenário”, afirmou o dirigente da agência.
Outro tema foi o transporte ferroviário de gás liquefeito, que poderia oferecer ao polo gesseiro uma matriz energética mais competitiva e reduzir os custos industriais. O presidente da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), Bruno Costa, afirmou que a empresa pretende estruturar o fornecimento já no próximo ano, em diálogo com o setor produtivo. “Estimamos que o polo consuma 320 mil metros cúbicos de gás por dia. Sem dúvida, a ferrovia nesse cenário permite atrair novos clientes. Do ponto de vista técnico, há possibilidade de utilizá-la para o transporte de gás”, destacou.
Na avaliação do presidente eleito do Sindicato da Indústria do Gesso (Sindusgesso), Joberth Granja de Araújo, o modal ferroviário também é estratégico para modernizar o setor e ampliar sua competitividade. “Temos o gesso como principal atividade produtiva da região e a ferrovia é importante para vários cenários. Sabemos que o polo gesseiro precisa mudar muitas coisas, sendo uma principal a matriz energética. O mundo todo está preocupado com isso. Precisamos discutir com todos da cadeia produtiva”, afirmou.
Um projeto regional
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti, destacou o impacto da ferrovia na economia local. “A Transnordestina é um projeto de país. Vai mudar a realidade de economias hoje limitadas pelo frete rodoviário, e o caso de Araripina é emblemático. O volume produzido aqui pode ser multiplicado por dez com a chegada da ferrovia”. O prefeito de Araripina, Evilásio Mateus, reforçou a importância de união em torno da obra. “O que for bom para Pernambuco é motivo para se unir”, frisou.
Perspectivas
O diretor de Empreendimentos da Infra S.A., André Luís Ludolfo, apresentou o panorama das ações em andamento no trecho Salgueiro–Suape. “Já avançamos na fase de implementação. O lançamento dos editais para contratação das empresas responsáveis pelas obras nos trechos SP4 e SP7 ocorrerá ainda neste semestre, e as frentes de trabalho estão previstas para o primeiro trimestre de 2026”, detalhou. Os segmentos correspondem a 73 km entre Custódia e Arcoverde (SP4) e 53 km entre Cachoeirinha e Belém de Maria (SP7). O custo estimado de toda a ferrovia é de R$ 3,5 bilhões, com conclusão prevista para 2029.
O Conexões Transnordestina, com apoio da Sudene, prevê sete edições em cidades diretamente impactadas pela ferrovia. Após Salgueiro, Petrolina e Araripina, o ciclo seguirá para Belo Jardim, Caruaru, São Bento do Una e Recife.
Por Agnelo Câmara
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