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(Foto: Marcello Casal Jr)
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Mais
de três crianças e adolescentes foram vítimas de estupro e exploração sexual
por dia em 2018 no Ceará. Um total de 1.447 crimes chegaram ao conhecimento da
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) ao longo do ano. Os
registros que chegaram não possuem um crescimento significativo comparado a
2017, que contabilizou 1.412, um aumento de 2,5%. Em 2019, nos primeiros quatro
meses, o número de denúncias chegou a 458.
As
organizações de defesa da criança e adolescente, no entanto, alertam para a
subnotificação. Para elas, os números registrados ainda não representam a
realidade do Ceará. Hoje, o 18 de maio foi estabelecido como o Dia Nacional de
Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
As
prisões e apreensões por crime de estupro de vulnerável e exploração sexual de
menor aumentaram e chegaram a 128 em 2018. Entre janeiro e abril de 2019 houve
um salto de 58,8% comparado ao mesmo período do ano passado, mais pessoas
acusadas de estupro, exploração sexual e pedofilia foram presas neste ano.
A
titular da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente
(Dceca) e conselheira titular do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente do Ceará (Cedca), Yasmin Ximenes Pontes, afirma que todos os dias
chegam novas notícias de crimes contra a dignidade social das crianças e
adolescentes. Ela relata que a denúncia é o pontapé inicial e que esse contato
pode ser feito por pessoas da família, mas que essa responsabilidade é
estendida a terceiros, seja por meio de alguém da área de saúde, diretores de
escola, professores.
Conforme
Yasmin Pontes, casos no meio familiar ou do convívio ainda dificultam as
denúncias. São situações que envolvem vizinhos, namorado da mãe, padrasto, pai,
tio. A desconfiança e a atenção são aliados para identificar e impedir a
violência sexual. "O pedófilo se apresenta como um adulto de confiança, um
ser caridoso e afável. . Afinal, você não deixaria sua filha com alguém que não
inspirasse confiança", explica.
O
perfil dos criminosos que chegam na Dceca está entre pessoas "acima de
qualquer suspeita". Para a titular da delegacia especializada, os
trabalhos de prevenção são fundamentais para identificar ou evitar que uma
criança sofra esse tipo de violência. "É necessário explicar à criança o
que é um toque permissivo ou não. Um toque bom é um abraço de mãe, mas um toque
mau é um toque em uma parte genital. E ainda afirmar que se houver algo, que
ela procure um adulto de confiança para informar o que houve", sugere.
As
alterações comportamentais podem auxiliar os pais a descobrirem se a criança ou
adolescente é vítima de um pedófilo. Algumas crianças ficam chorosas, outras
passam a urinar na cama. Irritabilidade e ansiedade também são fatores que
devem ser analisados. São sinais de que existe um sofrimento psicológico, que
causam a depressão.
A
delegada afirma que os casos que envolvem abordagens pela internet estão
crescendo e que também é necessário ficar atento ao que as crianças estão
fazendo no celular ou no computador. "Você não vai deixar seu filho
sozinho em um banheiro público, mas esquece que ele também não pode ficar no
quarto sozinho usando o celular. As pessoas acreditam que por estar em casa a
criança segue em segurança, mas ela pode está compartilhando ou recebendo fotos
íntimas. É importante que os pais tenham acesso a senha desses equipamentos e
verificando o histórico de acessos", alerta.
Yasmin
explica que a violência sexual contra crianças e adolescentes é algo que sempre
existiu, mas agora é mais falada e é mais denunciada. Antes, as pessoas queriam
esconder, ignoravam e até duvidavam quando uma criança denunciava ser vítima de
estupro. Com a Internet o crime evoluiu, os pedófilos perceberam no smartphone
uma chance de se aproximar das crianças sem que precise abordar pessoalmente.
Porém, mesmo com o crescimento dos crimes virtuais, os casos que mais chegam
são os que existem o contato direto. "Todos os dias tem caso de estupro de
vulnerável. E quando termina o inquérito descobrimos que é alguém bem
próximo", explica.
Em
relação a gênero, a maioria das vítimas que chegam ao sistema de segurança
pública são meninas. A delegada levanta, no entanto, a possibilidade de que a
violência contra meninos seja silenciada por preconceito. O Povo
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