São muitas as dimensões que influenciam na percepção de cada brasileiro sobre a qualidade de vida, como alimentação, moradia adequada, educação, saneamento básico e equidade de gênero e raça. No Ceará, cidades como Fortaleza, Sobral e Crato destacam-se com os melhores resultados, segundo o Índice de Progresso Social (IPS) Brasil 2025. No outro extremo, Ibaretama, Choró e Trairi foram os piores. VEJA A LISTA LOGO ABAIXO.
Esta é a segunda edição do IPS Brasil e, em 2025, ele foi construído com base em 57 indicadores sociais e ambientais. Em um índice geral que varia de 0 a 100, do pior para o melhor, ele agrega informações como: famílias em situação de rua, cobertura vacinal, violência, abandono escolar, gravidez na adolescência, acesso a programas de direitos humanos e expectativa de vida.
O levantamento considera como Progresso Social a “capacidade da sociedade em satisfazer as necessidades humanas básicas, estabelecer as estruturas que garantam qualidade de vida aos cidadãos e dar oportunidades para que todos os indivíduos possam atingir seu potencial máximo”, segundo o relatório.
Com um IPS de 60,03, o Ceará ocupa a 14ª posição entre as 27 unidades federativas do País e a 4ª na comparação com as nove do Nordeste. Na Região, o Estado está atrás de Paraíba (61,09), Sergipe (60,60) e Rio Grande do Norte (60,04).
O relatório final do IPS Brasil 2025 divide as pontuações dos 5.570 municípios brasileiros em nove grupos - o Grupo 1 reúne aquelas cidades com melhores índices (de 65,49 a 73,48) e o Grupo 9, aquelas de piores taxas (de 37,58 a 48,24).
Não há municípios cearenses nesses dois extremos. A maioria das cidades obteve resultados intermediários, com IPS variando de 54,70 a 60,74.
Veja os melhores e os piores resultados do Ceará no IPS Brasil 2025
Fortaleza lidera a lista de cidades com os melhores índices em 2025. Na edição de 2024, a Capital ficou atrás de Eusébio e Juazeiro do Norte.
10 cidades com melhores índices de qualidade de vida no Ceará
Fortaleza: 64,44
Sobral: 64,02
Crato: 63,94 (Região do Cariri)
Camocim: 62,95
Juazeiro do Norte: 62,94 (Região do Cariri)
Eusébio: 62,65
Granjeiro: 62,53 (Região do Cariri)
Baturité: 62,40
Altaneira: 62,05 (Região do Cariri)
Pacujá: 62,00
O ranking de piores resultados no Ceará, neste ano, é encabeçado por Ibaretama, localizada no Sertão de Quixeramobim, a 141,93 km de Fortaleza. Na comparação com o IPS Brasil 2024, quando o índice de Ibaretama foi de 53,16, o município registrou uma piora.
10 cidades com piores índices de qualidade de vida no Ceará
Ibaretama: 49,70
Choró: 50,02
Trairi: 50,15
São João do Jaguaribe: 50,38
Aratuba: 51,16
Alto Santo: 51,93
Guaiúba: 51,97
Itarema: 52,17
São Luís do Curu: 52,99
Chorozinho: 52,99
Melhor em necessidades básicas, pior em oportunidades
O Índice de Progresso Social (IPS) é dividido em três dimensões com 12 componentes dentro delas.
Necessidades Humanas Básicas: Nutrição e Cuidados Médicos Básicos, Água e Saneamento, Moradia e Segurança Pessoal.
Fundamentos do Bem-Estar: Acesso ao Conhecimento Básico, Acesso à Informação e Comunicação, Saúde e Bem-Estar e Qualidade do Meio Ambiente.
Oportunidades: Direitos Individuais, Liberdades Individuais e de Escolha, Inclusão Social e Acesso à Educação Superior.
Observando o resultado dos municípios cearenses em cada uma dessas dimensões, é possível perceber que os melhores indicadores são relacionados às necessidades humanas básicas, que englobam aspectos como “Mortalidade Infantil até 5 anos”, “Abastecimento de Água Via Rede de Distribuição”, “Domicílios com Coleta de Resíduos Adequada” e “Assassinatos de Mulheres”.
É nessa dimensão que, em média, a pontuação das cidades é melhor. Nova Russas, localizada no Sertão de Crateús, a 304,39 km da Capital, obteve IPS 80,08 nesses quesitos, seguida por Ipueiras (77,17), Altaneira (77,10), Cariré (77,07) e Ibiapina (76,55).
Foi na dimensão de Oportunidades que, por outro lado, os resultados foram mais baixos. Essa categoria inclui dados sobre “Resposta a Processos Previdenciários”, “Acesso à Cultura, Lazer e Esporte”, “Praças e Parques em Áreas Urbanas”, “Paridade de Gênero na Câmara Municipal” e “Empregados com Ensino Superior”, entre outros aspectos.
Pacoti, cidade da microrregião de Baturité, a 98,45 km de Fortaleza, obteve o IPS mais alto nessa dimensão: 54,47. O mais baixo, por sua vez, foi o de Itaiçaba. O município da microrregião do Litoral de Aracati, distante 159,50 km da Capital, obteve IPS 32,92 nessa categoria.
Melissa Wilm, coordenadora do IPS Brasil, aponta que essa dimensão “avalia indicadores ligados ao futuro das pessoas” e que os dados revelam que o desafio central para muitos municípios está em garantir acesso equitativo às oportunidades de crescimento pessoal e social.
“Para alcançar um bom desempenho nesse tema, é essencial apresentar avanços consistentes em várias frentes - como acesso ao ensino superior, inclusão social, igualdade de direitos e liberdades individuais e de escolha. Ou seja, não basta ir bem em apenas uma dessas áreas: é o equilíbrio entre elas que realmente faz a diferença”, afirma.
Para a coordenadora, os resultados do IPS 2025 no Ceará mostram que a qualidade de vida está dividida de forma desigual entre os municípios, com uma “diferença clara” entre as diferentes dimensões.
“A leitura desses números sugere que, embora o Ceará tenha avançado em garantir as bases da qualidade de vida, o maior desafio está justamente em criar condições para que as pessoas possam desenvolver todo o seu potencial”, afirma.
O geógrafo Flávio Rodrigues do Nascimento, professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador de Ações Transversais do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, aponta a importância do IPS por conseguir mostrar as desigualdades e discrepâncias existentes entre os municípios brasileiros, norteando programas e projetos.
Porém, uma vez que faz a análise para a cidade de forma geral, as desigualdades e contradições existentes dentro desses territórios acabam não aparecendo - principalmente em relação àqueles que ficaram “na média” do ranking. “Ele mostra o problema, o que é muito bom, mas não consegue mostrar especificamente dentro do tecido social, da cidade, essas desigualdades”, observa.
O docente destaca que a qualidade de vida envolve diversos aspectos, como acesso à saúde, saneamento básico, infraestrutura e renda, além de condições de habitação e de habitabilidade. Dentro das cidades, a coexistência desses fatores pode ser observada de forma mais próxima. “Você pode morar em um bairro muito bom, mas ter uma habitação precarizada”, exemplifica.
De acordo com o professor, os resultados mostram as regiões Norte e Nordeste como mais desafiadoras, com concentração de melhorias gerais nas capitais. “Mas, se você abrir esses dados para bairros, vai ver uma série de discrepâncias mesmo dentro das capitais. (...) Se vai para o Interior, essa estratificação entre bairros não aparece muito. No interior, de modo geral, o elemento fundamental é a renda”, pondera.
Sobre o IPS Brasil 2025
O Índice de Progresso Social (IPS) foi desenvolvido pela organização internacional Social Progress Imperative (SPI), que coordena a publicação anual do IPS para 170 países desde 2014. Sob liderança do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o IPS Brasil 2025 é a segunda edição do levantamento que mede o desempenho social e ambiental de territórios no País.
O relatório abrange todos os 5.570 municípios brasileiros e é atualizado anualmente para que seja possível comparar o desempenho socioambiental dos municípios ao longo do tempo. O índice é estruturado em três dimensões e 12 componentes, e cada um deles responde a uma pergunta orientadora e possui de três a seis indicadores.
Segundo o relatório, a dimensão de “Necessidades Humanas Básicas” mostra se as necessidades essenciais da população estão sendo atendidas. Já a dimensão “Fundamentos do Bem-Estar” indica se existem estruturas que garantem aos indivíduos e comunidades manter ou melhorar seu bem-estar. A dimensão “Oportunidades”, por sua vez, aponta se há oportunidades para que todos os indivíduos atinjam seu potencial pleno.
Fonte: Diário do Nordeste
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