Brasília. O vice-presidente Michel Temer admitiu que sofreu tentativa de boicote quando ocupava a função de articulador político do governo. Mas, segundo ele, não foi esse o motivo que o levou a deixar a função. As afirmações foram feitas em entrevista ao jornalista Jorge Bastos Moreno, colunista do jornal "O Globo", na estreia do programa "Preto no Branco", no Canal Brasil.
No último dia 24 de agosto, o vice deixou o "varejo" do dia a dia articulação política (negociações de cargos e emendas com parlamentares) para se dedicar à "macropolítica". Membros do PMDB, partido de Temer - entre os quais o presidente da Câmara, Eduardo Cunha - diziam que ele tinha o trabalho de articulador político "sabotado" pelo PT, partido da presidente Dilma.
Indagado na entrevista se, de fato, sofreu boicote, afirmou: "De alguma maneira, esse fato se verificou (tentativa de boicote). Foram esses desajustes que, muitas vezes, acontecem em qualquer governo", declarou.
Mas, segundo o vice-presidente, não foi essa a razão que o levou a deixar a articulação política. "Nós, da vida pública, temos que estar acima dos acontecimentos. Quando vi que, de fato, alguns tantos estavam procurando lideranças, disse: 'Olhe só, que coisa boa: o governo está encontrando seu caminho'. Eu abri o caminho, a senda, desmatei e agora, com o caminho aberto, as pessoas podem trabalhar".
Ele disse, ainda, que o recuo do ministro Joaquim Levy, ao negar a liberação de dinheiro para pagamento de emendas parlamentares, prejudicou a articulação política. Depois, foram liberados R$ 500 milhões, anunciados pelo ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, do PMDB, que assumiu as funções de Temer na articulação.
Na entrevista, Temer também negou que tenha tramado para ocupar o lugar de Dilma quando afirmou, no mês passado, que era preciso "alguém" que fosse capaz "de reunificar a todos, de reunir a todos". Entre membros do governo, a interpretação foi de que o próprio Temer pretendia se tornar presidente no lugar de Dilma.
"O que mais me ofendeu nesse episódio foi me darem o epíteto de asno, quer dizer: sou tão burro que sou capaz de verbalizar uma coisa como essa. Se estivesse querendo fazer isso, jamais pronunciaria aquela palavra. Eu agiria subterraneamente", declarou. Temer admitiu, porém, que a aliança com o PT está desgastada e admitiu que poderá se lançar candidato a presidente em 2018 pelo PMDB, mas ressalvou que o partido tem "nomes mais preciosos".
Ministros
Ontem, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva, classificou o vice-presidente como um aliado "muito correto" e "leal" à presidente Dilma Rousseff (PT). Edinho afirmou que Temer era um símbolo da coalizão partidária de sustento ao governo federal.
Já o ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse que a fala do peemedebista de que "nenhum governo resiste três anos e meio com esse índice de popularidade" é "óbvia". Para ele, as pessoas deram uma "conotação diferente" ao que foi dito por Temer. Wagner acredita que Dilma chegará sim ao fim de seu mandato "porque nós já começamos o processo de recuperação".
No domingo, a assessoria de imprensa do vice-presidente divulgou nota na qual afirma que Temer não é um "frasista" e que age dentro dos limites da lei.
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