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| Reunião Anual da FeSBE - Pedro Walisson, Maria Stella, Dra. Elizabeth Nobre (orientadora) e Pedro Lourenzo. |
Pelo
segundo ano consecutivo, a Universidade Federal do Cariri (UFCA) teve um
estudante reconhecido com menção honrosa na reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia
Experimental (FeSBE), principal congresso nacional da área. Os dois
estudantes agraciados com o reconhecimento – um em 2019 e outro, em 2018 – são
bolsistas de iniciação científica na Universidade.
Pedro
Walisson Gomes Feitosa (20), estudante do sexto semestre do curso de Medicina,
expôs o trabalho Omega-3
administered to rats during pregnancy and lactation promotes antidepressants
effect in puppies undergoing cerebral ischemia/reperfusion (Ômega-3
administrado em ratos durante gravidez e lactação promove efeitos
antidepressivos em filhotes submetidos a isquemia/reperfusão cerebral, em
tradução livre) na edição 2019 da FeSBE, realizada neste mês em setembro, em
Campos do Jordão (SP).
No
ano passado, Samuel Átila Nogueira (19), do sétimo semestre de Medicina, expôs
o trabalho intitulado Effects
of Costus spicatus methanolic extract on morphological and behavioral
alterations induced by global cerebral ischemia-reperfusion injury in rats,
ou “Efeitos do extrato metanólico Costus spicatus nas alterações morfológicas e
comportamentais induzidas por lesão global de isquemia-reperfusão cerebral em
ratos”. A FeSBE 2018 também ocorreu na cidade do interior paulista.
Lapenn/UFCA
Pedro
e Samuel atuam no Laboratório de Pesquisa em Neurociências e Neuroproteção
(Lapenn/UFCA), que desenvolve pesquisas em Neurociência no Cariri. O
laboratório, fundado em setembro de 2017, é coordenado pela professora Maria
Elizabeth Pereira Nobre, da Faculdade de Medicina (Famed/UFCA), com colaboração
de outros professores da instituição e também da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA). A Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Faculdade de Medicina de
Juazeiro (FMJ) também participam da iniciativa, cujas pesquisas são vinculadas
ao Programa Institucional de Iniciação Científica e Tecnológica (PIICT) da
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PRPI/UFCA).
De
acordo com Elizabeth Pereira, o laboratório desenvolve suas atividades na Sala
Multidisciplinar da Famed/UFCA – com insumos custeados, em boa parte, pelos
próprios pesquisadores: “Mas essa é uma realidade de vários pesquisadores do
nosso país. Nada extraordinário”, pondera a docente. Segundo a professora, que
orientou os dois trabalhos reconhecidos no FesBE, o Lapenn/UFCA desenvolve
atualmente 5 projetos, com o trabalho de dois professores e de 46 estudantes:
“Investigamos temas como inflamação, dor, drogas de abuso, toxicologia, [Mal
de] Parkinson e Epilepsia”, enumera. Três projetos do Lappen/UFCA já foram
concluídos.
Sobre
o cenário
especialmente difícil enfrentado pela pesquisa acadêmica brasileira atualmente,
Elizabeth acredita que não se pode “ficar parado”: “A ciência é
responsabilidade nossa. Só somos melhores quando questionamos e buscamos uma
melhor explicação para a vida atual. Com pouco, podemos [fazer pesquisa]. Com
muito, poderíamos [fazer] ainda mais”, disse.
Ômega-3
Pedro
Walisson, natural de Caririaçu, explica que seu trabalho se refere à asfixia
perinatal: uma das principais causas de morte pediátrica no Brasil. A asfixia
perinatal é a condição decorrente da oxigenação inadequada, de um feto ou de um
recém-nascido, durante o periparto [período próximo ao parto, tanto antes como
depois] ou nos primeiros minutos de vida, podendo resultar em lesões cerebrais
irreversíveis: “Isso pode ocasionar disfunções neurofisiológicas, prejudicando
a motricidade, a aprendizagem, a memória e contribuindo para depressão”
explica.
Buscando
soluções terapêuticas para a asfixia perinatal, a equipe integrada por Pedro
partiu de pesquisas que já “demonstraram que o Ômega-3 (DHA) participa do
desenvolvimento cerebral e que sua função na membrana lipídica está relacionada
à proteção celular frente ao estresse oxidativo”. Ômega-3 é um conjunto de
ácidos graxos, não produzido pelo corpo humano, que impactam positivamente o
funcionamento do organismo.
No
trabalho, Pedro e os demais pesquisadores avaliaram filhotes de ratas tratadas
com Ômega-3, submetidos à isquemia (diminuição ou suspensão sanguínea) e à
reperfusão (retorno sanguíneo) cerebrais. Os filhotes foram monitorados durante
a gestação e a lactação deles. O estudo concluiu que o Ômega-3 exibiu
propriedades neuroprotetoras, tanto pela melhora no comportamento depressivo
das cobaias quanto pela diminuição dos níveis do neurotransmissor dopamina nos
ratos. A dopamina está relacionada com o chamado sistema de recompensa: um
circuito neuronal no cérebro que influencia diretamente as nossas emoções. A
dopamina também está envolvida em processos corporais como controle motor,
cognição e algumas funções endócrinas, além de ser precursora de outros
neurotransmissores.
Cana
do Brejo
Já
o trabalho de Samuel – filho do distrito de Nova Floresta, em Jaguaribe, no
leste do estado – partiu do indício de que uma planta regional, conhecida como
Cana do Brejo, teria potencial anti-inflamatório: “Pessoas no Cariri utilizam
essa planta contra inflamações. A gente queria saber se essa planta também
serviria para o cérebro. Na maioria das vezes em que ocorre um Acidente
Vascular Cerebral (AVC), por exemplo, há falta de sangue no cérebro, o que
causa inflamações e, consequentemente, muitos danos ao organismo”, detalha. De
acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil contabiliza mais de 100 mil mortes
por ano em decorrência de um AVC: uma morte a cada 5 minutos. Quem sobrevive
precisa lidar com sequelas que vão desde alterações na fala e nos movimentos a
deficit de memória. Atualmente, o AVC é a principal causa de incapacidade no
mundo.
Como
resultado, a equipe envolvida no projeto constatou que, de fato, compostos
presentes na planta diminuíram os efeitos nocivos do AVC: “Recebemos a menção
honrosa do FeSBE por esse trabalho no ano passado. É uma conquista
significativa, porque é um evento grande, com muitos inscritos. É um
reconhecimento que poucos recebem. E recebemos mesmo com um laboratório
pequeno, com recursos limitados, não tendo um espaço físico só nosso”, analisa.

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