O
curta-metragem “Aos de ontem, aos de sempre” (2018), produzido em Juazeiro do
Norte recebeu seis prêmios, duas menções honrosas e tem se destacado em
festivais de cinema de todo o país. Para quem deseja assistir à película, em
breve estará disponível na grade de programação da TV Escola, emissora aberta
com alcance nacional.
Cinco
troféus foram conquistados no Cine Cariri. No 12º Curta Taquary, que reuniu a
produção audiovisual da América Latina em Taquaritinga do Norte, Alto
Capibaribe pernambucano, o filme caririense levou a estatueta de melhor direção
e duas menções honrosas. Exibido no Cine Ouro Preto, em Minas Gerais no mês
passado, em festival não competitivo, “Aos de ontem, aos de sempre” transpôs as
divisas do Nordeste.
O
curta ratifica a qualidade do cinema produzido na região, berço de Rosemberg
Cariry e outros cineastas de renome. Mas, para além do que vai para fora, a
relevância dessa produção se mede pelas lições que ficam com sua narrativa. Não
é apenas mais um que aborda a temática da negritude e as discriminações
inerentes à ela. A que distância o preconceito está de você? Que distância você
toma do seu próprio preconceito?
Ficção
e realidade se entrelaçam em um roteiro que expõe à carne crua as verdades
mascaradas por maldade ou inocência. Narrado por uma negra pernambucana, de
alma caririense, ao expectador não é revelado até onde o texto são observações
ou memórias de sua própria vida. Com personagens reais em que a cor da pele foi
sua sentença de morte. A morte não escolhe cor, ela um dia a todos leva. Mas, é
o preconceito velado ou escancarado que determina a guilhotina de muitos.
“Para
resistir é preciso existir”, o filme fala de resistência, mas, também de
representatividade. Não basta estar, é necessário saber em que posição se está.
Se é no da objetivação, dos estereótipos ou da identidade. A apropriação cultural
de outras etnias, como o alisar o cabelo crespo diz mais sobre a sociedade em
que vivemos, o coletivo, do que sobre cada um em nível individual. Agressão ou
autoagressão. O racismo é reproduzido ao longo da história pelos negros, não
por maldade, por inocência.
O
mito da democracia racial e da meritocracia é mais uma vez apontado. A difusão
desse conceito é a causa de frustrações e assédios. Para negros e brancos a
jornada é diferente e a história prova isso. Mas, se é disseminado esse fake,
esse mito, de que é o meu esforço quem define quem sou eu, se não alcanço o que
almejo me frustro por não ser capaz. Se alcanço o que almejo sou acusada de
cotista oportunista. Enquanto houver desigualdade no julgamento, nunca haverá
paridade no mérito.
A
água é um elemento central presente na narrativa. O que ela representa? Licença
poética? Seria a água uma metáfora? Um meio libertador?
Com
direção de Elvis Pinheiro, Jaildo Oliveira, Laryssa Raphaella, Lívia Agra,
Raquel Morais e Ravi Carvalho e edição de Ythallo Rodrigues, “Aos de ontem, aos
de sempre” foi um trabalho realizado como exercício do Ateliê Arquivos Móveis
do curso Doc Cariri, realizado em fevereiro e junho de 2018, com apoio cultural
da Secretaria de Cultura do Ceará, através do XII Edital de Cinema e Vídeo.
Fonte: Cariri Revista
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