quarta-feira, 5 de junho de 2019

No Cariri, agroflorestas são opções para convívio com a seca


Os consecutivos anos de chuvas irregulares no Estado fizeram com que produtores buscassem alternativas à dependência da água proveniente da chuva. As agroflorestas surgem como uma aposta viável. O Ceará tem cerca de 200 núcleos de plantio de mogno africano e cedro, as conhecidas madeira-de-lei, que possuem alto valor mercadológico, mas que são culturas de ciclo produtivo de longo prazo, o que acaba desencorajando alguns produtores. Entretanto, no município de Aurora, no Cariri cearense, distante cerca de 450 km de Fortaleza, um produtor rural apostou no cultivo da planta, e o resultado tem dado certo.

A unidade tem, inclusive, atraído produtores que ficam admirados com o desenvolvimento do plantio que necessita de pouca água.

A iniciativa do núcleo é do médico e produtor rural Joary Lacerda, de 83 anos. No sítio Alves, uma área total de 60 hectares, adquirido em 1976, ele iniciou o desenvolvimento de um projeto agroflorestal de preservação da natureza e de cultivo de plantas nativas e espécies nobres. "Isso aqui era só cascalho, muito desmatado, ruim, mas fui cultivando mata nativa do Semiárido, preservando e hoje está essa beleza", descreve.

Há quatro anos, Lacerda iniciou o plantio de mogno africano das variedades senegalense e ivorense, e de cedro. Em uma área de 2,5 hectares, cultivou 100 mudas. "Os resultados foram muito favoráveis, as árvores se desenvolveram rapidamente", disse. "Em seguida, plantei mais e vou continuar até quando puder". Atualmente, já são cerca de 800 árvores.

O plantio é adensado e as árvores são cultivadas em distância quadricular de quatro metros. Segundo o produtor, exige pouca água e a irrigação pode ser feita por gotejamento. Ademais, a área fica às margens do Rio Salgado, que assegura fonte de água para a unidade agroflorestal ao longo do ano. Todos esses fatores contribuem para o desenvolvimento do mogno. Com apenas quatro anos de cultivo, há árvores com quatro metros de altura e 30 cm de diâmetro. Na fase adulta, podem chegar a 60 metros de altura.

No projeto agroflorestal que está em andamento no sítio Alves, há ainda criação de bovinos para leite e corte e de aves, como ganso, peru e galinha caipira. "Respeitando a natureza", Lacerda conseguiu criar um ambiente verde, de arborização densa e com preservação ambiental marcante. "Aqui, não se desmata, não se queima, não se caça, e a matéria orgânica fica no solo", explicou Joary Lacerda. "Sempre gostei do campo e isso me motivou a implantar essa unidade agroflorestal".

Poupança Verde
Após dez anos do início da plantação, já é viável economicamente fazer o corte e venda da madeira nobre. "Isso aqui é uma poupança verde e cada árvore, na cotação atual, renderia mil reais", pontuou. Aos 83 anos de idade, indagado se tem esperança de ver a venda dos primeiros lotes, responde com largo sorriso no rosto. "Se não der para mim, vai dar para meus filhos e netos".    Diário do Nordeste

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