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Até abril deste
ano, a estimativa era de 1.694 toneladas
de pescado morto nos tanques-redes dos
piscicultores da região.
(Foto: Wandemberg Belém)
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O
fim da piscicultura no Castanhão, o maior reservatório do Ceará,
provoca grave impacto na economia da cidade de Jaguaribara: desemprego, queda
de 70% no comércio varejista, fechamento de lojas de ração e de outros produtos
ligados à atividade e famílias de piscicultores - agora sem trabalho e renda -
enfrentando dificuldades de sobrevivência.
A
descrição do cenário é da secretária de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Aquicultura
e Pesca de Jaguaribara, Lívia Barreto. "A economia local depende da
piscicultura, que gerou trabalho, renda e trouxe a esperança de dias melhores
para centenas de piscicultores e trabalhadores, mas agora veio uma crise que
parece não ter fim", disse. "O impacto é gritante, a situação é
triste e muito preocupante".
Nos
últimos quatro anos, com a queda seguida do nível do reservatório, que acumula
atualmente 5,5%, houve registro de mortandade de pescado nos parques aquícolas.
Há cinco meses, o episódio se repetiu, eliminando 95% do pescado existente nas
gaiolas e atingindo até o peixe nativo. Em abril passado, houve uma nova onda
de mortalidade nos criatórios. Até aquele mês, a estimativa era de 1.694
toneladas de pescado morto nos tanques-redes.
No
início desta semana, a mortandade atingiu o restante dos criatórios, pondo fim
à atividade no reservatório. "Ainda não temos o levantamento dessa última
mortandade porque a prioridade é retirar o pescado morto das gaiolas",
explicou Barreto. "Depois, vamos fazer o levantamento completo, saber
quantos produtores foram atingidos, mas todo um parque aquícola foi
dizimado".
Reivindicações
A
Prefeitura de Jaguaribara já apresentou em, pelo menos, cinco reuniões com
representantes da Casa Civil do Governo do Estado reivindicações para socorrer
os trabalhadores e os pequenos piscicultores: distribuição de cestas básicas
para 200 famílias, amparo financeiro mínimo para 78 famílias, assistência
técnica e o envio de uma equipe para avaliar a situação econômica e social, que
a cidade atravessa.
"Até
agora, não recebemos nenhuma resposta concreta do Governo do Estado, nem
conseguimos falar com o governador", lamentou Lívia Barreto. "O
prefeito já decidiu não mais participar de nenhum encontro". Os
piscicultores e autoridades locais lamentam a situação em que se encontram.
Eles observam que a água do Castanhão é levada para outras cidades, o Governo
recebe recursos com a venda da água bruta, mas não há medidas compensatórias
para as atividades produtivas que sofrem com a escassez do recurso hídrico.
Já
com relação à Secretaria Nacional de Pesca, houve o compromisso de prorrogação
de dívidas de empréstimos no banco, o estudo para implantar um seguro para a
atividade, assistência técnica especializada e cadastramento dos piscicultores.
"Estamos aguardando um retorno até julho próximo", pontuou Lívia.
Afetados
Em
decorrência da crise hídrica que reduziu consideravelmente o volume do
Castanhão desde 2012, os médios e grandes piscicultores transferiram as gaiolas
e atividades para outros reservatórios na Bahia e em outros estados. Ficaram os
pequenos produtores e trabalhadores, que hoje sofrem a consequência do fim da
atividade. Todos estão sem trabalho e sem renda.
A
cidade de Jaguaribara, primeiro centro urbano planejado do Ceará, enfrenta uma
crise econômica sem precedentes. A queda brusca da renda dos moradores decorre
de cinco episódios de mortandade de pescado ocorridos nos últimos quatro anos.
As ruas largas e planas mais parecem cena de filme de cidade "fantasma".
São dezenas de prédios fechados.
"A
nossa única fonte de trabalho e renda é o peixe e perdemos tudo", lamenta
o piscicultor Luís Alves. O varejo se ressente da queda nas vendas. "Temos
uma dependência direta da produção de pescado no Castanhão, que se
acabou", disse o prefeito Joacir Alves dos Santos Júnior. Os vendedores
lojistas confirmam o quadro. "Neste ano, as vendas caíram demais, não se
vende nem a metade do que se costumava vender nessa época do ano",
lamentou a comerciária Renata Pinheiro.
Para
Lívia Barreto, o quadro é cada vez pior. "A cidade foi planejada, saneada,
ruas largas, mas não se pensou nas atividades econômicas", pontuou.
"Nenhum projeto prometido pelo Governo deu certo ou foi concluído".
Os
projetos Curupati-Irrigação, Curupati-Peixe e o Mandacaru não foram efetivados,
deixando até hoje as famílias que antes viviam na velha Jaguaribara sem
condições de trabalho e renda. "Na cidade antiga, havia alternativa de
sobrevivência, mas aqui, não", acrescentou Barreto.
A
reportagem entrou em contato com a Casa Civil do Governo do Estado para obter
esclarecimentos sobre as reivindicações apresentadas pelos piscicultores, mas
não obteve respostas. Diário do
Nordeste
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