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Uso de transporte público, transporte por aplicativos e bicicleta são considerados causa para a diminuição no número de CNHs. (Foto: Aurélio Alves) |
Cai
progressivamente o número de emissões de Carteiras Nacionais de Habilitação
(CNHs) no Brasil. Só no Ceará, entre 2015 e 2017, a queda foi de 23% na
quantidade de pessoas que obtiveram a primeira carteira de motorista, segundo o
Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE).
Estatísticas
preliminares de 2018 indicam que o declínio deve ser ainda maior. De janeiro a
agosto, conforme o departamento, somente 50.969 condutores finalizaram o
processo de habilitação formal ? 41,1% a menos que o total registrado no ano
anterior.
A
redução alcança praticamente todos os estados do País, conforme informações do
Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). A única exceção foi Alagoas, que,
apesar de ter caído no que se refere a 2015, aumentou aproximadamente 11,7% o
número de primeiras habilitações em 2017.
Menos
demanda, contudo, não significa, necessariamente, que a população esteja se
desinteressando pela compra e utilização de veículos. O Detran-CE associa essa
questão à perda de poder aquisitivo, consequência da recessão econômica
recente. "Houve redução de novos veículos, habilitações", comentou o
porta-voz do órgão, Paulo Ernesto Serpa.
Pesquisa
encomendada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea) e divulgada em novembro de 2018 concluiu, a partir de 1.789
entrevistas aplicadas em 11 capitais brasileiras, incluindo Fortaleza, que,
apesar de somente 35% da geração mais nova ? a chamada Geração Z, de até 25
anos de idade ? estar apta a dirigir, 91% dos que ainda não estão garantiram
que pretendem adquirir a carteira futuramente.
Entretanto,
apesar de a questão econômica ser significante, não há como desconsiderar
circunstâncias sociais como mudanças na prioridade de consumo das novas
gerações e transformações de mobilidade urbana nas cidades.
Sobre
o primeiro aspecto, Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos na área
automotiva na Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que, à medida em que a
população se endivida mais, reduz o estímulo por investir em outros bens que
demandem endividamento a médio e longo prazo, como automóveis.
Esse
comportamento acaba por gerar, também, segundo o professor, uma perda do senso
de propriedade. "O foco deixa de ser a propriedade e passa a ser a
mobilidade. Eu desejo ir de A para B. O meio pouco importa", exemplificou.
"O
que escuto que pegou foi essa onda da crise, da falta de dinheiro, de ter
outras prioridades. Carteira tem ficado pra depois", comentou Ideusmar
Chaves Faheina, dono da autoescola Capital. O empresário admitiu que CNH, hoje,
é cara. "Varia entre R$ 1,6 mil e R$ 1,8 mil pra categoria B (carros). Pra
A (motos) e B, é entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil".
Na
mesma pesquisa da Anfavea, foi observado que, embora mantenha interesse em
automóvel, a Geração Z tem se tornado mais "conectada", ou seja, mais
consciente de que mobilidade é, sobretudo, escolha. Assim, dos entrevistados
nessa faixa etária, 67% afirmaram que se deslocam a pé; 18% de bicicleta; 44%
por carro particular; 7% por moto particular; 49% por táxi ou transporte
privado por aplicativo; 80% por ônibus e 42% por metrô.
Os
altos níveis de predileção por caminhadas, aplicativos e transporte público
sinalizam que a mobilidade compartilhada tem conseguido se estabelecer no País.
No entanto, segundo Antônio Jorge, ainda não há como saber de que forma essa
tendência deve evoluir. Ele provoca: embora o poder público esteja tomando
consciência da responsabilidade na melhoria da mobilidade, "será que os
governos vão ter condições financeiras de oferecer melhor infraestrutura
pública" a fim de se equiparar à privada?
No
fim, observou o professor, "cabe a cada um avaliar o que se torna mais
conveniente. Dependendo de onde você mora e das suas necessidades diárias, pode
ser que, financeiramente, ainda seja mais interessante possuir veículo. Na
outra ponta, pode ser que, por esses mesmos fatores, se torne muito mais
econômico compartilhamento". O Povo
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