A
trabalhadora doméstica Maria Sidrak, 51, está desacreditada com a política.
Enquanto aguarda o ônibus no bairro Luciano Cavalcante, diz que tem pouco tempo
para acompanhar as propagandas eleitorais e revela que sofre pressão para votar
em determinado candidato. “Vou votar, mas ainda não sei em quem”, pontua, com a
convicção de quem quer exercer este direito. A diarista Antônia Lira, 56,
também espera decidir o voto logo, e livremente, apesar da influência de
familiares e amigos para este ou aquele nome.
Assim
como Maria e Antônia, a três dias do segundo turno das eleições, há 9% de
eleitores indecisos no País, que se percebem rodeados de dúvidas para a escolha
do próximo presidente. A configuração do pleito entre dois polos políticos, os
mais distintos das últimas eleições presidenciais, é motivo de análise também
divergente de especialistas sobre o perfil do público ainda em cima do muro. Os
eleitores entrevistados, que devem decidir no apagar das luzes, somam
questionamentos e críticas aos dois projetos.
Os
9% dos votantes nesta condição no cenário espontâneo, segundo pesquisa de
intenção de voto do Ibope de terça-feira (23), seriam cerca de 13,2 milhões de
brasileiros. Diante do eleitorado de 147,3 milhões, representam aproximadamente
a diferença de eleitores entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT),
segundo o estudo.

Os
detalhes da pesquisa, disponibilizados ontem, trazem o perfil dos que não
souberam ou não responderam às perguntas sobre o presidenciável preferido, com
predominância do público de escolaridade até a 4ª série, com renda de até um salário
mínimo e residente no Interior de estados no Nordeste e no Sul.
As
características do eleitor ajudam a explicar a indecisão para o próximo
domingo, no entendimento do antropólogo Babi Fonteles. Para ele, por estarem
situadas, sobretudo, em regiões extremas do País e em municípios interioranos,
há tendência de pensar que são pessoas que têm “laços frágeis com movimentos
sociais” e, por isso, veem a participação política como algo eventual.
Pensar
bem
Professor
aposentado da UFC, o cientista político Rui Martinho entende que o chamado
eleitor indeciso pode ser considerado “uma pessoa decidida a pensar muito bem
antes de votar”.
“As
pesquisas estão dizendo que é uma pessoa madura, que já viu muitas eleições,
que já votou muitas vezes e possivelmente teve algum desapontamento”, avalia.
Ele acredita que o “eleitor maduro sabe que as diferenças marcantes para ganhar
uma eleição, em geral, não são tão marcantes na hora de governar”.
O
antropólogo Babi Fonteles, porém, entende que a partir do que chamou de “frouxidão
dos laços (com movimentos sociais), é possível que eleitores decidam na hora em
quem votar, e aí as influências de quem chegar mais perto, de um parente,
amigo, cabo eleitoral, podem fazer a diferença”. Já Rui Martinho opina que os
indecisos são mais criteriosos, exatamente pela distância das regiões mais
movimentadas.
“Estão
menos impregnados do debate eleitoral, da orientação ou desorientação que
recebem nas escolas, nas universidades”, afirma. Para o cientista político, os
indecisos não podem ser subestimados pela baixa escolaridade que têm ou pela
região. Dona Antônia Lira, por exemplo, que mora na periferia, garante que tem
acompanhado com atenção o cenário eleitoral, e espera contribuir para a
democracia no próximo domingo. “Quando eu sair (de casa), vou votar”, assegura. Diário do Nordeste
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