sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Após meio século, único alfaiate do Cariri mantém firme a profissão e diz: "os negócios vão muito bem"

(Foto: Felipe Azevedo)

"Eu sempre tive talento, aprendi rápido, mas a alfaiataria é um ofício delicado, difícil, e todo aprendiz não leva menos de dois anos para começar a pegar jeito no corte". A frase é de José Pereira Filho, ou Ivan, como é conhecido o mais antigo alfaiate do Cariri.

Aos 76 anos, ele reconhece que a profissão hoje cumpre um papel diferente de quando ele começou, ainda pequeno, por influência dos pais e irmãos costureiros. "Não existia confecção, a gente fazia roupa porque era a única opção das pessoas", ele relembra.

Natural de Granjeiro, José Ivan chegou em Juazeiro em 1956. "Era tudo mato aqui no centro da cidade", ele diz. Nunca trabalhou em outra coisa senão no corte do tecido da alfaiataria fina, e com o passar das décadas se transformou referência.

Para isso, teve os mestres. Se inspirou em grandes alfaiates como Zé Caton, João Martins, Expedido Alcântara e Moura Alfaiate. "Alfaiataria é um tipo de Senai, ele brinca. "O aprendiz chega e começa aos poucos: pregando botão, molhando tecido e embutindo bolso até aprender.

Coisa fina

Todos os dias a partir das 7 horas, José Ivan abre a Werlly Alfaiataria na esquina das ruas Delmiro Gouveia e Clóvis Beviláqua, no coração do centro comercial de Juazeiro, "estou entre duas grandes figuras da história da cidade, e sou uma também", diz.

Faz porque ama ser alfaiate. Teve quatro filhos e todos já estão formados, é aposentado e mantém renda de imóveis alugados, não precisa do que ganha para sobreviver. Com ele trabalham quatro funcionárias, todas as costureiras estão ali há mais de 10 anos.

Costurar é arte

Fazer um terno para José Ivan é como se fosse a construção de uma obra de arte. Metódico, ele não aceita mais de uma encomenda por semana. O blazer só quem faz é ele, não confia o corte a qualquer pessoa, e garante que a procura é grande, inclusive de pessoas de outros estados.

Na parede de tecidos que fica atrás da bancada onde trabalha, aponta os mais caros, alguns italianos. Um terno de Ivan Alfaiate custa entre R$ 600 e R$ 1.200, por serem exclusivos e sob medida do cliente, "é por isso que tem muita procura, as peças são feitas pensadas em cada tipo de corpo", destaca.

Antenado

Apesar de meio século de profissão, na Werlly Alfaiataria as coisas são modernizadas. Ivan se antena nas tendências e aprendeu rápido a fazer o paletó "slim", um modelo mais justo do terno, que disse estar na moda. Tudo pode ser visto no site que ele mantém e faz questão de fazer propaganda.

Ao fim da conversa que teve com a reportagem, Ivan se aprontou para as fotos. Buscou da gaveta uma fita métrica e uma tesoura grande para compor o cenário. Da vitrine puxou três camisas que acabara de fazer, disse que eram lindas e que queria mostrar.

Enquanto ouvia os cliques da câmera registrando as fotos dele ao lado das peças, olhou para o repórter e disse sorrindo: "eu nasci para ser alfaiate". Fonte: Site Miséria

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