Um dia após o feriado da Proclamação da República, um grupo de extrema direita invadiu o plenário da Câmara Federal e gritou palavras de ordem pedindo intervenção militar e o fim do comunismo, uma pauta de mais de meio século. O episódio demonstrou o quão fragilizada é a estrutura do Congresso Nacional, e muitos parlamentares, aterrorizados com o ocorrido, pedem medidas enérgicas à presidência da Casa.
O presidente da Câmara, deputado federal Rodrigo Mais (DEM-RJ), chegou a pedir a prisão dos manifestantes. O parlamentar pretende, ainda, restringir o acesso ao Salão Verde. Para alguns deputados da bancada cearense, o episódio demonstra o quanto a população está descontente com os políticos. Eles ponderam, porém, que há hoje uma criminalização da política.
Um dos poucos parlamentares presentes no plenário naquele dia, o deputado Ronaldo Martins (PRB) viu seu assessor ser agredido durante o protesto. Segundo ele, os manifestantes informaram que participariam de uma audiência em uma comissão e invadiram o plenário. "Somos a favor de qualquer reivindicação, desde que isso não signifique agredir as pessoas", disse. Ronaldo Martins enviou uma reclamação por escrito para a Mesa Diretora, solicitando mais segurança.
Comportamento
Já o deputado Chico Lopes (PCdoB) acredita que o Congresso não tem se comportado como uma Casa de importância para a nação. "Com debates na Câmara Federal sempre raivosos e sem conteúdo, e muitas das vezes desrespeitosos, a sociedade passou a olhar o Legislativo com outros olhos, com aversão. Somado a isso, com os casos de corrupção, o Poder passou a ser criminalizado bem como seus representantes". O parlamentar criticou, ainda, a discrepância na atuação policial legislativa quanto aos protestos feitos na Casa.
"Por exemplo, para um sindicato entrar aqui é um sacrifício. Mas esse pessoal aí, não", reclamou o comunista, lembrando ainda que já teve discussões graves com a Polícia Legislativa, que agiu com agressividade contra movimentos estudantis em Brasília. "Por que a Polícia é tão rígida com outros movimentos e com esse não? Ficou essa dúvida, esse questionamento. Portanto, a Câmara hoje, não é respeitada pela população. Lamentamos profundamente que uma Casa tão cara e importante para o País esteja passando por essa situação difícil".
O parlamentar também criticou a pauta levantada pelos manifestantes, que queriam intervenção militar no Brasil e o "fim do comunismo". "Eles não tem pauta porque para eles todo político é ladrão. Eles queriam intervenção militar, e de preferência de um general. Estamos numa crise, que não é econômica, é política", lamentou.
Domingos Neto (PSD) disse que todos que defendem uma democracia forte devem abominar a manifestação da semana passada, primeiro pela forma de se fazer, com invasão do plenário e impedimento do trabalho dos parlamentares na marra. Segundo pelo fato de terem combinado todo aquele processo, mesmo sabendo dos riscos para os deputados. "A Câmara tem que aprender com esse erro, e além disso, defender a ditadura militar? Isso é traumático".
Genecias Noronha (SD) disse que o ato foi preocupante, visto que a ação foi agressiva e sem motivações para ocorrer. Ele acredita, no entanto, que é um pensamento isolado que não vai se manter. Segundo ele,é preciso que os parlamentares tenham mais cuidado e que a Câmara apresente um projeto de segurança para manter a integridade física dos parlamentares.
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