domingo, 8 de maio de 2016

Segurança para o Pau da Bandeira


Barbalha. Restando três semanas para o início de uma das festas culturais e religiosas mais tradicionais do Interior do Estado, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) realizou, na última segunda-feira (2), audiência pública para traçar um plano de atuação dos órgãos públicos nas festividades do padroeiro de Barbalha, que serão realizadas entre os dias 29 de maio a 13 de junho próximos.
Durante o encontro, foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para garantir a segurança de todos os envolvidos no evento e evitar acidentes como o que ocorreu no ano passado, que resultou na morte de um dos carregadores. Pelo documento, o Município se compromete a desobstruir as ruas por onde o cortejo passa, retirando barracas e veículos. Além disso, deve fornecer segurança, isolando o pau da bandeira com cordão frontal e lateral.
Já o capitão do pau da bandeira, se compromete a confeccionar camisas e pulseiras para os carregadores e a coibir o consumo de bebidas alcoólicas por parte dos integrantes durante o cortejo. Caso o TAC seja desobedecido, será aplicada uma multa, no valor de R$ 10 mil, por cada uma das cláusulas descumpridas.
O promotor de justiça que presidiu a audiência, Francisco das Chagas da Silva, avaliou o encontro como positivo, ao destacar que as medidas tomadas pelas autoridades, no ano passado, já minimizaram os acidentes durante a realização da festa, mas ressaltou, no entanto, que deve haver o máximo de prudência em todas as etapas do evento, ao recordar o acidente que vitimou Cícero Ricardo, um dos organizadores do cortejo do Pau da Bandeira de Santo Antônio.
"A intenção desse encontro, em que reunimos diversos segmentos, órgãos públicos e da segurança, é somar forças para que a festa de Santo Antônio possa se realizar com êxito, garantir à população o direito de ir e vi, além da segurança necessária para os festejos do padroeiro de Barbalha", pontuou o representante do MPCE, Francisco das Chagas.
Policiamento
Para a edição deste ano, o efetivo policial será reforçado. De acordo com a procuradora do Município, Ana Keive Moreira, Barbalha firmou parceria com a cidade de Juazeiro do Norte para disponibilizar 100 guardas municipais para o dia do cortejo do Pau da Bandeira.
Além disso, o Major da Polícia Militar, José Adailton, solicitou dados gerais do evento para "montar um plano de operação para o efetivo que irá disponibilizar para todos os dias dos festejos".
Já o diretor do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran) de Barbalha, Roberto Granjeiro, afirmou que, neste ano, trabalhará com 23 homens diuturnamente, em todas as localidades, com destaque maior aos locais de maior fluxo de pessoas. "Vamos trabalhar em conjunto com o Detran, Demutran, PRE, PM, Guarda Municipal de Juazeiro, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, além de outros órgãos ligados à segurança, para garantir que a festa transcorra em paz", finalizou Ana Keive.
Patrimônio Cultural
Em setembro do ano passado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) incluiu a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha como Patrimônio Cultural do Brasil. Para o doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Gilmar de Carvalho, a festa, oficialmente iniciada ainda no ano de 1928, é importante para o contexto nacional.
Atento à identidade da festa, Gilmar de Carvalho critica o aspecto espetacular que pode atrapalhar a fruição mais ampla e sincera da festa. O secretário de Cultura e Turismo de Barbalha, Antônio de Luna, discorda e lembra que as "bandas de plástico", como o pesquisador classifica as bandas de forró, são apenas "um apêndice da festa do Padroeiro de Barbalha".
Corte do Pau
No próximo dia 17 será realizado o tradicional corte do Pau da Bandeira. Luna não confirmou qual será árvore pois, segundo suas informações, "apesar de já ter sido escolhida, depende ainda da vistoria a ser realizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)". De acordo com o "capitão do pau", Rildo Teles, a árvore selecionada foi uma "rama branca", localizada no Sítio São Joaquim. Ela possui 25 metros de comprimento, 1,15 metros de circunferência e pesa cerca de duas toneladas. A seleção da árvore foi realizada no último domingo, 1º de maio.
O secretário ressalta que "o dia do corte é quando simbolicamente começa a festa. A cidade inteira entra no clima do festejo". Para Luna, "o momento mexe com toda a cadeia produtiva da cidade, além de elevar a autoestima da população, por se tratar de uma festa quase centenária, reconhecida pelo Iphan e que possui, sobretudo, o poder de irmandade entre as pessoas".
Em que pese a tradição, Gilmar de Carvalho acredita que o corte da árvore centenária não seria necessário e que o povo é criativo o suficiente para encontrar outras formas de ligar o plano terreno ao reino dos céus nos festejos do Padroeiro.
Entrevista com Gilmar de Carvalho
Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP
Grande importância no contexto nacional
Qual é a importância da Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha no contexto cultural do Cariri?
A festa é importante no contexto nacional. Esta relevância foi respaldada pela seriedade do Iphan. A festa foi, é e será sempre uma fuga da realidade, um estado de suspensão e um momento de alegre e saudável transgressão. Do ponto de vista sociológico, reforça laços e sentimento de "pertença". A festa de Barbalha é realmente muito especial.
Você acha que questões como as mudanças no estilo de vida das pessoas, ecologia e segurança afetam essa tradição?
Em primeiro lugar, temos o aspecto espetacular que pode atrapalhar a fruição mais ampla e sincera da festa. Certa feita, fiquei incomodado com a quantidade de bandas de forró, que faziam um verdadeiro festival. Aí entram outros interesses, comissões, contratações, material para muitas queixas e para muitas sindicâncias. Reclamei, faz tempo, do corte da árvore centenária. Creio que não seria necessário. O povo é criativo o bastante para encontrar outras formas de ligar os céus à terra. A Chapada do Araripe é um território sagrado. A primeira floresta declarada como tal, há mais de 60 anos. Tem sido relativamente bem cuidada e não merece ser agredida, anualmente, logo com o pretexto de saudar Santo Antônio.
Diante do que vem ocorrendo, como você imagina essa festa daqui a uma ou duas décadas?
As formas de sociabilidade têm mudado tanto que a gente pode soltar a imaginação criativa. A festa pode ser vista por meio de registros das novas mídias e tecnologias. Podem propor vários aplicativos. As pessoas podem se reunir em suas próprias casas ou nos quarteirões para uma reverência mais íntima. O "pau" pode ser uma projeção holográfica ou feixes de laser. Enfim, que permaneça o espírito do sagrado e que as pessoas festejem como acharem melhor e mais adequado. Teremos sempre uma flauta de taboca, caixas de inharé e pratos de metal a anunciar as bandas cabaçais.
Maristela Crispim
Editora
FIQUE POR DENTRO
Tradição começou antes da Cidade
Os festejos em homenagem a Santo Antônio, padroeiro da cidade e conhecido como o santo casamenteiro, tiveram início ainda no século XVIII, antes mesmo do surgimento da cidade. Em 1928 foi oficializada e hoje é considerada uma das festas culturais e religiosas mais importantes do interior nordestino. A festa envolve todos os segmentos da cidade de Barbalha e movimenta, também, municípios vizinhos da região do Cariri cearense. O momento é celebrado sempre durante 13 dias. A data inicial é o domingo mais próximo de 31 de maio, dia do carregamento e hasteamento do Pau da Bandeira. Os carregadores percorrem cerca de sete quilômetros, até a Praça da Matriz de Santo Antônio, no centro de Barbalha, com o Pau da Bandeira às costas.

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