sexta-feira, 13 de maio de 2016

Rompimento completa dez anos


As casas e a pavimentação da parte afetada foram recuperadas, mas as perdas da população, predominantemente de baixa renda, nunca chegaram a ser indenizadas, apesar das promessas ( Foto: Ellen Freitas )
Ibicuitinga. No mês em que completa 28 anos de emancipação política, a tão jovem cidade de Ibicuitinga, relembra também uma década da maior tragédia da cidade. O rompimento de uma barragem particular causou momentos pânico e agonia na população, fato esse que ainda emociona moradores.
O fato ocorreu na manhã de sábado do dia 13 de maio de 2006, dois dias após a festa que comemorava os 18 anos de emancipação política da cidade. Mais um dia de rotina na vida dos onze mil habitantes da cidadezinha localizada na junção das regiões Jaguaribana e Sertão Central. Era pouco antes das 11h da manhã quando dona Antônia Vieira, com 42 anos na época, se preparava para servir o almoço do marido e dos quatro filhos. O mais novo, com 13 anos, ainda dormia quando um barulho alto seguido por gritos de populares assustou dona Antônia e os demais moradores da Rua José Rodrigues, popularmente conhecida como "rampa". Em segundos, descia morro abaixo uma enxurrada de lama, advinda do estouro da parede de uma barragem particular.
"Eu botei minha filha que morava numa casinha aqui atrás pra minha mãe junto com o bichinho dela que tinha cinco meses. Na agonia, eu lembrei que meu filho estava dormindo e corri pra dentro de casa pra procurar ele, mas ele na verdade não estava. Quando eu entrei, a água já estava me pegando pelos joelhos", conta. A moradora lembra, ainda, que passou mal dentro da casa alagada, em decorrência de sua hipertensão. "Eu só lembro de começar a ficar tonta e ver meu marido me pegando. Depois eu desmaiei", acrescenta.
Antônia conta que, mesmo com a força da água, sua a residência não chegou a ser danificada em sua estrutura, mas pelo menos três de vizinhos e a da sua filha foram derrubadas. "Tudo o que a gente tinha a gente perdeu", relembra com tristeza.
Quem conta também sobre esse dia é o trabalhador autônomo Hernandes Saraiva, na época coordenador da Guarda Municipal de Ibicuitinga: "Estava na casa de um amigo quando a gente ouviu o barulho do rompimento, eu corri até a rua pra avisar aos moradores, mas a água já estava chegando e ninguém tinha noção da sua dimensão".
Na tragédia não houve mortes, apenas danos materiais à população predominantemente de baixa renda. Hernandes foi um dos poucos que teve escoriações pelo corpo porque foi um dos que foi arrastado pela enxurrada. "Disseram que tinha duas crianças dentro de uma casa que já estava sendo tomada pela água. Eu e outros dois rapazes fomos ver e tentar salvar, mas, na verdade, elas não estavam lá. Uma cerca rompeu e a água nos arrastou, conseguimos nos salvar segurando no que podia. Eu fui sendo jogado de parede em parede e consegui nadar até sair da água", relembra Hernandes.
Ele conta, ainda, que tudo aconteceu muito rápido, devido ao açude ficar em uma parte alta, o que fez com que a velocidade da descida da água e da lama chegasse até o açude local, chamado de Quatro Bocas, localizado na entrada da cidade, do lado oposto ao local do rompimento da barragem privada. Hernandes lembra, ainda, que todo o pânico com a água devastando as ruas da cidade durou menos de uma hora e que ela atingiu, em alguns locais, a uma altura de quatro metros.
Para o morador Osmar Pereira da Silva, esposo de dona Antônia, o difícil foi reconstruir tudo depois. Ele disse que indenizações prometidas para compensar as perdas de móveis e eletrodomésticos não foram pagas e que apenas pequenas reformas foram realizadas nas casas.

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