Os servidores reclamam reajustes, mas também reivindicam melhores condições de trabalho e assistência à população
Barbalha Servidores da área da Saúde deste município completam, hoje, um ano desde a deflagração da greve. Segundo a presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Barbalha (Sindmub), Maria Jacqueline Ferreira de Sá Barreto, "já é a greve mais longa registrada no País em âmbito municipal". Os profissionais reivindicam reajuste salarial, concurso público e melhores condições de trabalho. "A classe já acumula perda salarial de 130% ao longo dos últimos dez anos", ressalta a sindicalista.
Adesão
Mais de 100 profissionais, entre médicos, dentistas, enfermeiros e técnicos de enfermagem já aderiram à paralisação. O atendimento está comprometido em todos os 22 postos de Saúde do Município, nas unidades do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), no Centro Materno Infantil e no Serviço de Verificação de Óbitos (SVO). "A salvação da população tem sido os médicos inseridos nos programas federais", disse Jacqueline.
Na manhã de hoje, os servidores se reúnem, em frente ao prédio da Secretária da Saúde de Barbalha, para satirizarem a data. "Não estamos comemorando um ano da greve, mas a persistência dos servidores que lutam por uma saúde mais digna", destacou a sindicalista.
Em um ano de greve, a categoria revela que se reuniu somente três vezes com a Prefeitura do Município. "A primeira negociação só veio a acontecer em 2 de fevereiro passado, após o TRF julgar, por nove votos a zero, a legalidade da greve", pontuou Jacqueline.
Em 26 de fevereiro, o gestor municipal José Leite Gonçalves Cruz (PT) apresentou proposta de reajuste salarial de 10,67%. Mas a categoria recusou.
"Além de ele ter desprezado as outras reivindicações, condicionou o aumento à verba vinda do Fundeb, o que é um completo absurdo. Como se aplica o dinheiro da Educação para a área da saúde? Não só não aceitamos como acionamos o Ministério Público Federal (MPF), por considerar a prática fora da lei", explicou a presidente do Sindmub.
Diante da negativa, os servidores enviaram contraposta ao gestor municipal e, segundo os grevistas, só receberam retorno em abril, um dia após o encerramento do prazo da lei eleitoral, que impõe restrição a reajuste de servidores públicos.
"Foi tudo meticulosamente pensado. Zé Leite esperou em silêncio todo esse tempo e só respondeu no dia 6 de abril, ou seja, um dia após ter entrado em vigência a lei que não permite que o reajuste supere a inflação apurada no ano do pleito", critica Jacqueline Barreto.
"Apesar desse artifício raso, a classe está unida e não recuará. Vamos seguir com a paralisação até 31 de dezembro, se for preciso. Até o TRF já reconheceu a legitimidade de nossas reivindicações, então não há porque nos darmos por vencidos pelo cansaço e sair sem nenhuma conquista. A Saúde de Barbalha precisa ser vista com mais atenção. Já que a lei não permite reajuste acima da inflação, vamos negociar por meio de gratificação, mas a greve não acaba enquanto as pautas mínimas não forem contempladas", finalizou.
Prejudicados
Enquanto perdura o impasse entre os servidores e a Prefeitura, a população mais carente se vê desassistida. Em vários postos de saúde, não há medicamento, faltam profissionais e o tempo de espera para marcar exames pode chegar a seis meses. A dona de casa Francisca da Rocha, 58, conta que, desde novembro, tenta, sem sucesso, um exame para o esposo: "Quem é pobre, morre esperando por consulta. Remédio mais bestinha até tem, mas se é pra marcar um exame ou ficar doente de algo mais grave e precisar de uma medicação, reze para não morrer esperando".
Com o filho nos braços, a também dona de casa, Aurilene Batista, critica o tempo da greve ao passo em que pede melhorias na saúde do Município. "Claro que a greve atrapalha porque a gente fica sem dentista, sem médico, sem nada. Mas o problema não é só esse. A maioria dos postinhos está acabada. As paredes todas rachadas, o mato entra nas salas e quase nunca tem todos os remédios que a gente procura. O jeito é voltar pra casa com o filho doente", desabafa.
Insalubridade
Além da falta de profissionais e medicamentos, as condições de muitos PSFs são precárias. Em três dos quatro Postos visitados, a reportagem do Diário do Nordeste flagrou infiltrações, rachaduras, banheiros com falta de água e luz, salas sem climatização, vacinas acondicionadas em locais impróprios e até baratas nos corredores. "Nem no banheiro podemos ir, pois não tem água", critica uma atendente que pede para ter sua identidade preservada.
Dentro do PSF da Cirolândia, o matagal serve de alimento para animais pastarem. A vegetação chegou a invadir a sala dos atendimentos médicos, por entre as frechas da janela. "Se você falar a qualquer pessoa que tem um burro pastando dentro de um Posto de Saúde, próximo aos pacientes, muitos não vão acreditar. Mas isso é o de menos aqui nos PSFs de Barbalha", expôs Maria Jacqueline.
A reportagem do Diário do Nordeste tentou contato com a secretária de Saúde de Barbalha, Desiree de Sá Barreto Dias Gino, mas as ligações não foram atendidas. A titular da pasta também não foi localizada no prédio da Secretaria, assim como o prefeito José Leite também não foi encontrado para comentar a paralisação.
FOTOS: ANDRÉ COSTA
Mais informações:
Secretaria Municipal da Saúde
Telefone: (88) 3532-0521
Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Barbalha
Endereço: Rua Padre José Correia, 123, Bairro do Rosário
Telefone: (88) 3532-0022
Fonte: Diário do Nordeste
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