sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Intolerância religiosa é o foco

Homens, mulheres e crianças se vestiram de branco para realizar uma saudação pela paz e não à intolerância religiosa na região ( Foto: Elizângela Santos )
Juazeiro do Norte. O som dos tambores mais uma vez ressoa na rua de maior movimentação deste Município. Homens, mulheres e crianças estão vestidos de branco para realizar uma saudação pela paz e não à intolerância. O ato fez parte da VII Caminhada pela Liberdade Religiosa, que tem acontecido todos os anos na cidade, e mobilizado centenas de pessoas de religiões de matriz africana. O ato aconteceu durante a tarde de ontem, num cortejo pela Rua São Pedro, no Centro de Juazeiro, e na praça Padre Cícero.
São centenas de terreiros de umbanda e candomblé representados pelos participantes, demonstrando o crescimento de outras religiões na cidade, que tem uma grande representatividade católica, principalmente em torno do Padre Cícero. Sob os olhares das pessoas, organizadores ainda falam que há um estranhamento e até quem vire até as costas, como forma de não aceitação às diferentes formas de culto.
Para a representante de uma das instituições organizadores, o Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), Valéria Carvalho, todos os anos pode ser percebido um fortalecimento do movimento na cidade, mas isso não quer dizer que o preconceito tenha reduzido. Há posicionamentos que são bem mais evidentes. Isso pôde ser visto na própria caminhada, em que pessoas chegaram, segundo ela, até a se benzer para o cortejo.
"Estamos vestidos de branco para celebrar a paz e dizer que estamos aqui para isso", afirma a mãe de terreiro Cícera Maria de Oliveira. Ela relatou que, desde adolescente, há mais de 30 anos, decidiu buscar um equilíbrio maior em sua vida. Foi fazer parte da Umbanda e se sente feliz por isso. "Sofro o preconceito a partir da minha própria família e isso tem que mudar. O filho se afasta e diz que a mãe está lutando com o demônio. Há muito desconhecimento, porque a Umbanda é paz e amor. Se chegar um caído a gente levanta, e sou feliz por fazer parte", afirma.
Segundo a integrante do Grunec, a mobilização vem crescendo, mas ainda é muito difícil colocar essa caminhada neste dia 21. "Gostaria de, nessa sétima caminhada, dizer que não há muita intolerância, mas infelizmente a gente sente o preconceito", afirma. Valéria ressalta que é uma religião e não folclore, e que a educação precisa, de fato, enfrentar essa questão. É uma forma de começar a trabalhar o processo, com o envolvimento das escolas. "Se isso não acontecer, ainda vamos continuar nessa luta por muitos anos", diz.
Para a mãe-de-santo do terreiro Ilê Axé Omindandereci Mutalegi, essa forma de manifestação é sagrada e o objetivo de ir às ruas todo ano é uma tentativa de quebrar o preconceito que ainda existe em relação ao Candomblé, que vem desde os primeiros momentos em que os escravos chegaram ao Brasil e tiveram segregada a sua forma de manifestação religiosa.

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