domingo, 6 de setembro de 2015

Quanto vale a vida de uma mulher com câncer de mama?

Coragem, fé e alegria de viver definem bem a história da cabeleireira mineira Adriana Venancio, 50 anos, que desde 2010, está em tratamento de um câncer metastático e que mantém a página no faceboock "Força na peruca". Assim como ela, outras muitas pacientes compartilham suas vivências nas redes sociais.
É o que faz também a publicitária baiana Paula Dultra, do blog "Mão na mama", a ex-modelo Flávia Torres, autora do livro "Quimioterapia e beleza", e a psicóloga e jornalista Valéria Baraccat, fundadora do Instituto Arte de Viver Bem. Todas têm uma história e um objetivo comum: vencer o câncer e renascer.
Esses e muitos outros relatos - inclusive de uma comunidade de apoio engajada e ativa - foram apresentados no "Foro de Pacientes com Câncer de Mama: acesso aos tratamentos no Brasil", realizado no fim de agosto, em Gramado (RS), paralelo à 10ª edição do Câncer de Mama.
Falta liderança
A intenção inicial foi o de engajar diferentes públicos (sociedades médicas, profissionais de saúde, parlamentares e associações de pacientes) em torno do tema, embora o objetivo tenha sido alcançado apenas em parte.
Isso porque, infelizmente, as palestras das quais participaram organizações como o Instituto Oncoguia, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas em Apoio à Saúde da Mama e a Associação Brasileira dos Portadores de Câncer não contaram com a participação da comunidade médica. Tal conduta deixou clara a ausência de lideranças, assim como a complexidade que envolve essa cadeia (políticas públicas, acesso a medicação por meio do SUS, disponibilidade de tratamentos adequados etc.)
Cresce a incidência
Apesar da união das sociedades organizadas, esse descompasso acontece quando a incidência de câncer de mama em estágio avançado bate recordes no Brasil. Segundo dados recentes, o óbito por câncer de mama aumentou 12% nos últimos sete anos. Os índices são ascendentes no Ceará, Paraíba, Pará e Piauí, enquanto a redução é observada em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco.
O desabafo partiu do diretor executivo do Latin American Cooperative Oncology Group, Dr. Carlos Barrios. "Isso mostra que não estamos fazendo as coisas direito. Não temos educação (preventiva) adequada, nem tampouco diálogo com o governo. As sociedades médicas não estão estruturadas, e a indústria farmacêutica está muito cômoda nessa discussão. São necessários projetos conjuntos e não existem iniciativas suficientes que nos deem esperança".
Acesso ao tratamento
É crítica a desorganização do sistema de saúde brasileiro. Além do déficit de centros oncológicos (são 54 no Nordeste) e radioterápicos (40% dos pacientes não recebem tratamento), falta prevenção primária e secundária.
"A ciência avança, mas o registro de novos medicamentos pela Anvisa é lento e burocrático, sem contar as decisões erradas tomadas pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec)", afirma o oncologista clínico do Hospital Albert Einstein (SP), Dr. Rafael Kaliks.
Mamografia
Aumentar a aderência a mamografia de rastreamento (aos 40 anos), ao exame Papanicolau e a reconstrução mamária são pleitos essenciais na opinião de oncologistas, pacientes e Ongs.
A reconstrução mamária é garantida por lei, embora ainda seja baixa a taxa de procedimentos realizados. "É preciso uma maior aceitação por parte dos mastologistas em fazer essa cirurgia (com melhor remuneração) e aumentar o número de centros cirúrgicos. Precisamos melhorar os resultados, pois muitas vezes são inadequados", pondera Kaliks.
FIQUE POR DENTRO
Pré-diagnóstico, mamografia por rastreamento
É inegável que a Lei 12.732/12, assegurando aos pacientes com câncer o início do tratamento em no máximo 60 dias após a inclusão da doença em seu prontuário/ SUS, é um avanço. No entanto, não resolve o problema como um todo, uma vez que persiste o gargalo quanto ao pré-diagnóstico.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. Evanius Wiermann persistem questões fundamentais, já que a legislação não garante mudanças quanto a falta de infraestrutura (da rede de atenção básica de saúde), assim como a eficácia das mamografias por rastreamento. "Nada muda também quanto aos diagnósticos tardios, que levam ao diagnóstico de câncer em estágio avançado".
Wiermann, que atua na rede pública e privada, diz que enfrenta um conflito diário entre realidades tão díspares. "Creio que a situação irá complicar com a Agenda Brasil (a ser submetida ao Senado), quando haverá a judicialização na saúde de drogas não homologadas pelo SUS". Além dos obstáculos a serem vencidos para ter acesso à medicação, as pacientes são desassistidas quanto aos medicamentos para a dor. Triste

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