CENTRO-SUL
Jovem luthier volta à terra natal
18.01.2015
Francisco Nogueira Dantas foi aluno da primeira turma da Escola de Música Eleazar de Carvalho
Iguatu. No centro sul cearense, um jovem músico vem se destacando no conserto e fabricação artesanal de violino, guitarra, viola clássica, contrabaixo, violoncelo e violão. Francisco Nogueira Dantas foi aluno da primeira turma da Escola de Música Erudita Maestro Eleazar de Carvalho, nesta cidade, mas nos últimos três anos tem se dedicado à arte da produção e manutenção dos instrumentos musicais de corda.
Nogueira é um luthier, que significa o profissional que fabrica, de forma artesanal, e conserta instrumentos de corda. O termo se refere à palavra francesa luth (alaúde). Depois de três anos de estudos e dedicação à técnica, no Conservatório Dramático Musical Dr. Carlos de Campos, na cidade de Tatuí, interior de São Paulo, resolveu voltar à cidade natal para dar continuidade ao aprendizado.
Oficina
Nos últimos meses, tem se dedicado à instalação de uma oficina nesta cidade, adquirindo ferramentas, bancadas e na conclusão do espaço físico. Tem enfrentado dificuldades próprias de quem está começando, mas, perseverante, acredita que as encomendas vão chegar e que, em um futuro próximo, será reconhecido como profissional de referência na área.
"Já fiz manutenção, consertos e estou trabalhando na fabricação de um violino e de uma guitarra", contou. "Muitos ainda não me conhecem e, por isso, ainda não confiam".
Parcerias
A estratégia do artista é firmar parceria com alguns músicos que ganham um instrumento e em troca fazem divulgação do seu trabalho em apresentações, concertos, festivais.
Nogueira é músico de vários instrumentos: bateria, bandolim, guitarra e violino. O conhecimento musical clássico e o ouvido aguçado favorecem a produção artesanal, a descoberta do projeto, do corte certo da madeira, a montagem, o som que deve produzir. O recorte minucioso das pranchas, respeitando veios e espessuras, assegura o toque exato de cada tom. O resultado são peças de acabamento impecável e muita beleza.
Inicialmente, Francisco Nogueira ingressou, em 2005, na Escola de Música Erudita Maestro Eleazar de Carvalho, nesta cidade. A unidade fora implantada em parceria com o Sesc e a Prefeitura, depois de um esforço da viúva do maestro, Sônia Muniz. A ideia era a realização de um sonho do maestro que era iguatuense. O projeto nasceu e perdurou até 2013.
Até 2009, Nogueira permaneceu na escola e, quando concluiu o conhecimento básico, chegou a ser professor de violino para os alunos iniciantes e depois resolveu seguir a sugestão de colegas e de professores. "Eu sempre gostei de desenhar, de produzir peças de artesanato, mas não tinha familiaridade com madeira e ferramentas de cortes", contou. Mesmo assim enfrentou o desafio e foi em frente.
Formação
Em Tatuí, concorreu a dez vagas e obteve o primeiro lugar. No conservatório musical fez o curso de luthieria. "É um estudo completo, que tem uma grade curricular ampla, inclui história da música, matemática, química e execução musical dos instrumentos de corda", frisou. Após a conclusão dos estudos, trabalhou na cidade de Guarulhos, como professor de música para adolescentes em um projeto do município.
Em março do ano passado, voltou a Iguatu cheio do desejo de montar um ateliê e desenvolver a técnica que aprendeu em Tatuí. Colocar em prática sua arte na construção e reparo de instrumentos de corda. Por falta de condições financeiras, está montando a oficina em casa.
Tem encontrado madeira nobre - cedro, imbuia, ipê, jogados no lixo. Recolhidos, são cortados e armazenados para uso posterior. Outras peças são importadas do Canadá ou da Europa. Cortar, lixar, esculpir e colar são movimentos que o artista faz diariamente na criação e restauração dos instrumentos. Desenho, risco, corte e talho são usados com habilidade e talento na busca da perfeição do som a ser produzido.
Embora as famílias de instrumentos obedeçam a princípios semelhantes, para cada um deles, a construção é cheia de detalhes. A primeira é o desenho do projeto. Os moldes permitem tomar decisões antes de cortar a madeira, cada milímetro deve ser respeitado para obter escalas musicais coerentes de acordo com a seleção de cada material.
O valor dos instrumentos varia de acordo com cada objeto. Uma guitarra custa, em média, R$ 3 mil. Já um violino pode demorar dois meses para ficar pronto e custa bem mais. Nogueira sonha em ter seu trabalho reconhecido e já decidiu que quer estudar na Itália, em Cremona, considerada o berço da luthieria. Lá irá fazer um curso de especialização. Para isso, se força e dedica muitas horas do dia na confecção de cada encomenda.
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