sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

16/01/2015 às 10h14min - Atualizada em 16/01/2015 às 10h14min
Redação - Crato(CE)
TAMANHO DA FONTE
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Sem acesso a caminhões-pipa, cidades ficam desabastecidas
Localidades estão há meses sem água devido a burocracias e falhas na contratação de novos veículos pelo Governo

Iguatu Desde outubro do ano passado que comunidades rurais deste município, localizado na região Centro-Sul do Ceará, esperam pelo abastecimento de água por meio de caminhão-pipa, a ser enviado pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). A situação vem se agravando em várias regiões do Estado, devido a questões burocráticas, o órgão não consegue dar resposta à demanda crescente que chega do Interior.

Na zona rural de Iguatu, cerca de 4 mil famílias em 28 localidades enfrentam falta de água. No segundo semestre do ano passado, um carro-pipa chegou a ser enviado pela Cedec, mas o veículo era velho e quebrava constantemente. Resultado: não conseguiu fazer o serviço de abastecimento. Até hoje, não houve substituição do transporte.

O quadro de desabastecimento piorou nos últimos três meses no Estado. O nível dos reservatórios vem caindo. "Infelizmente, já fizemos vários pedidos, encaminhamos toda a documentação exigida, mas todas as semanas prometem e o carro não chega", disse a secretária de Agricultura do município e coordenadora municipal de Defesa Civil de Iguatu, Edileuza Pereira. "Estamos cansados de promessas e há questões burocráticas e de gestão na Cedec", acrescentou.

Atrasos

As localidades rurais estão recebendo água de forma precária por um único caminhão da Prefeitura, doado pelo Governo Federal por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na comunidade de Várzea Grande, situada no distrito de José de Alencar, aproximadamente 100 famílias estão consumindo água barrenta de um cacimbão. "Há um mês que o carro-pipa não passa por aqui", disse o presidente da Associação de Moradores de Várzea Grande, Manasses Borges. "As cisternas estão vazias", afirma.

O sítio Cachoeirinha e a localidade de Aceno, também no distrito de José de Alencar, enfrentam maiores dificuldades. O único poço que atende à comunidade secou e o carro-pipa passou no local há três semanas e não há previsão para retorno.

Reclamações

Edileuza Pereira declarou que a situação é grave e a Prefeitura Municipal está realizando as ações na medida do possível. "O Governo Federal precisa rever esse modelo do programa, porque o atual não funciona adequadamente", disse. "Nós vamos na próxima semana apresentar uma reclamação direta ao titular da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), na esperança de uma solução".

A seca que atinge o Ceará há três anos seguidos vem deixando milhares de moradores do Interior com enormes dificuldades de acesso à água potável. Em algumas localidades, o cenário é mais alarmante porque a estiagem predomina há mais tempo. A terra rachada deixa clara a ausência de chuvas no local. Os criadores também sofrem para alimentar e dar de beber aos animais em decorrência das fontes de água que secaram ou estão secando.

O subtenente e gestor de contratos da área quatro da Cedec, Luís Antonio Barbosa Júnior, explicou que o órgão suspendeu a sistemática de contratação de empresas para o modelo de negociação direta com os pipeiros (proprietários de caminhões-pipa) e passou a realizar sorteios para definir as rotas.

"Essas mudanças trouxeram atrasos, mas a verba já está empenhada e na próxima semana deveremos enviar os tíquetes para atender 18 comunidades de Iguatu", disse. Ele admitiu que há muitas reclamações, mas afirmou que logo os problemas serão sanados.

Novo modelo

A julgar pelo caso de Iguatu, que há mais de quatro meses espera por abastecimento, a Cedec tem passado por problemas de operacionalização do programa de abastecimento por carro-pipa. Na região Centro-Sul e Cariri, os municípios de Umari, Caririaçu, Potengi e Milhã ainda esperam por empenho de verba e contratação de veículos.

O novo modelo implantado pela Cedec de contratação direta dos pipeiros por meio de chamada pública e sorteio de rotas também gerou divergências. Quem mora em municípios distantes do sorteado não têm interesse em aderir ao contrato e sucessivos sorteios são realizados sem êxito.

"Precisamos cumprir a legislação, o princípio da legalidade, a realização de chamadas públicas em que qualquer pessoa pode participar", justificou a assessora técnica da Cedec, Ioneide Araújo. Ela reconhece, entretanto, que a burocracia e as normas a serem cumpridas trazem dificuldades e demora no atendimento às comunidades.

No Ceará, além da Defesa Civil, o Exército também atua na Operação Carro-Pipa. O Diário do Nordeste tentou por diversas vezes ouvir o coordenador estadual da Defesa Civil, tenente coronel Cleyton Bastos Bezerra, mas as chamadas ao celular não foram atendidas. O órgão informou que atualmente são assistidos 54 municípios e foram contratados 174 carros-pipa, atendendo a 282 mil pessoas.

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