domingo, 16 de novembro de 2014

Guerra às drogas. Qual guerra?

Em artigo no O POVO deste sábado (15), o médico, antropólogo e professor universitário, Antonio Mourão Cavalcante, sugere mais atenção à juventude para o combate ao tráfico de drogas. Confira:
A droga continua sendo a manchete da imprensa. Jovens mortos no bairro tal. Carregamento apreendido acolá. Cracolândias espalhadas pelo país. Estamos em plena crise. E – atenção! – não costumo ser alarmista nesse assunto. Quem se propõe estudioso no assunto, os fatos evidenciam uma dominação completa do tráfico. Eles estão ganhando a parada. Tem uma organização e gerência muito mais ousada e eficaz do que qualquer instância que se meta contra: governo, instituições policiais, sociedade organizada etc. Eles passam por cima. Não respeitam. Afrontam. Insultam.
Uma postura, não muito rara, é desconhecer o problema. Desconversar sobre o assunto. Já viram alguns homens públicos falando que vão tomar providências enérgicas de combate às drogas? Que vão aumentar o poder de fogo das polícias etc. E, não acontece nada?… Não é raro. É o mais frequente. Gostaria de voltar a questões elementares. Primeiro, a droga não tem propaganda explícita, estimulando o uso. (Salvo alguns retardados que ainda são a favor da liberação da maconha!). Usar drogas é uma decisão “voluntária” de quem procura. De quem utiliza. A droga é uma substância inerte. Não mexe com ninguém. Salvo quem vai atrás de adquirir.
O jovem é o mais vulnerável. Por que? Sentimento de aventura e risco. Força do grupo ao qual pertence. Amizades. Vontade de viver experiências novas, inusitadas… Por vezes as contradições e pressões em sua própria vida, no ambiente familiar, escolar ou social. Enfim, uma potencialidade existencial totalmente desperdiçada por um cotidiano ridículo e pouco sedutor. Vida sem amor e sem rumo. A droga complementa. Ela tenta preencher lacunas, vazios existenciais… Mas, o preço às vezes é muito caro. Não apenas ao bolso. Mas, à própria vida. Entretanto, ninguém usa drogas para morrer ou para ser morto. Isso é acidente. Lamentavelmente, muito frequente. A cocaína e seus derivados – sobretudo o crack – são de uma resolutividade muito contundente. Logo causa dependência e destrói o jovem por dentro.
Por estas rápidas reflexões fica muito claro – óbvio mesmo! – que o grande lance não é apenas estar prendendo traficante ou desmantelando as redes do negócio. Dando tiros em favelas ou militarizando o problema. Haveríamos de dar mais atenção, cuidado, zelo aos nossos jovens. Com tantos desafios em nossa sociedade é profundamente lastimável que estejamos perdendo a essência: nossa juventude, nossos próprios filhos!

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