Brasília. Líderes da oposição que até a semana passada mantinham apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), avaliaram, ontem, em reunião que a situação do presidente ficou ainda mais complicada. Mesmo com a perspectiva de ver naufragar o projeto de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), os oposicionistas consideraram que a relação com Cunha ficou muito desgastada.
Para os tucanos, as entrevistas concedidas por Cunha no fim de semana passado, em que ele apresentou sua defesa, "demandou de todos os partidos uma resposta". O líder da minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), disse que a explicação de Cunha "deixa a desejar".
A maioria dos tucanos avalia que a sigla se desgasta perante a opinião pública se não defender com mais ênfase a saída imediata de Cunha do comando da Câmara. "Ele não tem mais condições de ficar. Vamos botar ele logo para fora", afirmou Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR).
Um grupo de parlamentares da legenda quer antecipar a reunião da Executiva do partido a fim de que haja uma deliberação formal da sigla sobre o assunto. Há o entendimento ainda, no PSDB, de que Cunha não irá deliberar tão cedo sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma, único motivo real pelo qual o partido vinha mantendo apoio ao peemedebista até agora.
De atuação normalmente alinhada ao peemedebista, o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), reforçou o discurso dos tucanos e declarou que Cunha apresentou um argumento de defesa com "vários furos".
"À medida em que você não tem explicações que satisfaçam a opinião pública, piora o quadro do presidente. Espero que no curso do processo ele tenha oportunidade de se defender. Até aqui, o quadro é realmente bastante negativo e a gente tem de enfrentar a realidade como ela é", acrescentou.
Mendonça alegou que a postura da oposição sempre foi de não blindar o presidente da Casa nem de julgar antecipadamente. O líder defendeu o direito à ampla defesa do peemedebista, mas pediu celeridade e cautela no julgamento. "A defesa de Cunha mais fragilizou a situação do que esclareceu", concluiu.
Os oposicionistas cobram de Cunha uma posição em relação ao impeachment. Caso ele indefira o requerimento dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, partidos de oposição vão recorrer ao plenário. Governistas próximos ao deputado também cobram publicamente explicações dele. "Todo o Parlamento aguarda a defesa do deputado Eduardo Cunha", disse o líder do PSD, Rogério Rosso.
Aliados do peemedebista expuseram ainda ter discordado da decisão de Cunha em antecipar a defesa, já que o primeiro julgamento ao qual ele será submetido, no Conselho de Ética, é político e não jurídico. Cunha afirmou que apresentará a defesa prévia até segunda-feira.
Ontem, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SD-SP), novo integrante do Conselho de Ética, diante da renúncia do deputado Wladimir Costa (SD-PA), atrelou o apoio a Cunha ao objetivo de "derrubar" a presidente Dilma Rousseff.
Depósito no exterior
Cunha evitou comentar, ontem, a versão do economista Felipe Diniz sobre o depósito de 1,3 milhão de francos suíços em sua conta bancária no país europeu. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, o filho do ex-deputado Fernando Diniz contrariou a defesa de Cunha.
"Quando falei com vocês na sexta-feira, estava com a cópia e já mostrei para todos vocês. Não tenho nenhuma preocupação. Mas volto a dizer: este assunto volta para o campo do advogado", respondeu.
Felipe negou ter ordenado o depósito em um fundo na Suíça que tem Cunha como "usufrutuário". À PGR, o filho do ex-parlamentar disse que seu pai mantinha relação próxima a Cunha.
Para tentar comprovar suas explicações sobre a origem de seu dinheiro em contas na Suíça, Cunha mostrou a líderes partidários ontem seu passaporte com carimbos de entradas na África
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