sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Área pública é ocupada em Iguatu


Os ocupantes justificam a invasão por conta da falta de moradia no município ( Foto: Honório Barbosa )
Iguatu. Um fenômeno social que era comum nos grandes centros urbanos agora é cada vez mais recorrente nas médias cidades do Interior: a ocupação de terrenos públicos na periferia por trabalhadores e desempregados em busca de casa própria. Nos últimos dias, centenas de famílias ocuparam duas áreas nos bairros João Paulo II e Areias, nesta cidade, na região Centro-Sul do Ceará.
O movimento denominado de Sem Teto reivindica a construção e doação de unidades residenciais pela Prefeitura. A primeira invasão ocorreu no bairro João Paulo II. Cerca de 120 famílias, segundo os coordenadores do movimento, demarcaram lotes e construíram barracos. Ontem, o fato se repetiu no bairro Areias. Cerca de 50 famílias ocuparam uma área pública que estava ociosa e se instalando em barracas.
A situação dos ocupantes é precária. Falta água, luz, comida e o espaço não dispõe de sanitário. "A nossa salvação tem sido os vizinhos, os irmãos Maristas que estão nos ajudando", contou Francisca Leidiane Lourenço. "Todos estão nessa luta de sofrimento, muitos foram despejados, não têm emprego".
Despejo
Em cada barraco, as famílias têm suas histórias próprias, mas que são comuns: reclamam das dificuldades para conseguir trabalho, mães com crianças, sem marido, que lhes abandonaram, idosos largados, alguns despejados por falta de condições de pagar aluguel. Essas pessoas vieram de bairros vizinhos.
A primeira ocupação ocorrida no bairro João Paulo II incentivou uma semana depois que famílias invadissem uma área no bairro Areias. Barracas estão sendo instaladas no entorno de uma Academia de Saúde que foi construída, mas que ainda não estava em funcionamento. O banheiro, uma sala e o galpão da unidade estão servindo de abrigo para os ocupantes, que fogem do calor e do sol intenso.
O temor das famílias é com o calor que vai se intensificar a partir do próximo mês de setembro e com possível ocorrência de chuva. Os barracos têm coberta precária. "Aqui dentro é um sufoco, é muito quente", disse a moradora Antônia Luíza Freitas, que foi despejada nesta semana por atraso no pagamento do aluguel de um quarto.
Alguns conseguiram instalar colchões, armários e cadeiras e estão vivendo com filhos menores sob o teto de lonas de plástico. Edilma Lima está com o marido, os cinco filhos pequenos e uma sobrinha. "Não temos para onde ir", disse.
Na área do João Paulo II a Prefeitura iria construir um ginásio esportivo e outros equipamentos do Proares, um programa social. "Há dois anos, 17 famílias ocuparam essa mesma área e houve entendimento com a Prefeitura que fez o cadastro das pessoas, mas até hoje as casas prometidas não foram construídas", disse Rosana Ferreira.
Na terça-feira passada, representantes do movimento Sem Teto participaram de uma reunião na Câmara de Vereadores com o objetivo de relatar a situação em que vivem e solicitar apoio dos parlamentes para a luta pela construção e doação de casa própria. O padre Anastácio Ferreira e Irmãos Maristas da comunidade de João Paulo II também integraram a comitiva.
Os representantes do movimento reivindicam além da construção de unidades residenciais, assistência social, médica e de enfermagem, entrega de cestas básicas e abastecimento de água. "Estamos aguardando uma solução e aqui não é apenas demarcação de lotes, mas estamos morando nesses barracos de forma precária", frisou Antônio Alves da Silva, conhecido por 'Café'.
O prefeito de Iguatu, Aderilo Alcântara, disse que esteve reunido com lideranças do movimento, o padre Anastácio Ferreira e a integrante da Comissão Pastoral da Terra, Maria de Jesus. "Compreendemos que a situação é grave, mas o município sozinho não tem condições de construir mais de uma centena de casas", explicou. "Estivemos ontem na Secretaria de Ação Social do Estado com o deputado estadual Agenor Neto solicitando apoio, doação de cestas básicas para as famílias".
Na próxima semana, o prefeito de Iguatu disse que vai voltar a se reunir com os representantes do movimento de ocupação de terrenos públicos. Adiantou, entretanto, que o município vai ingressar com ação na Justiça para desocupação da área. "São terrenos públicos e não podemos ficar omissos", esclareceu. "A área do João Paulo II é destinada a equipamentos do Proares".
No fim de 2012, famílias invadiram 146 casas que foram construídas com recursos da Caixa Econômica Federal, na periferia de Iguatu, no entorno do bairro Cohab. Houve ordem judicial de desocupação, mas até hoje não foi cumprida. O então bispo da diocese de Iguatu, dom João Costa, interveio, e o problema permanece sem solução.
ENQUETE
Por qual motivo vocês invadiram o terreno?
"Por necessidade. A gente espera que o município construa casa para todos nós, pois estamos passando por dificuldades, fomos despejados, não temos condições de pagar aluguel em outro local"
Cândida da Costa
Ocupante
Quem ocupou e demarcou casas nesse terreno é porque precisa de uma casa para morar, está necessitado. Muitas mães têm filhos pequenos, estão sem emprego e foram abandonadas pelos seus maridos"
Maria do Socorro Rodrigues
Ocupante
O jeito foi vir para cá, porque não temos onde morar por falta de condições financeiras. Porém, aqui falta água, comida, os barracos são precários, não tem luz e não tem sanitário. A estrutura é precária"
Terezinha Maria da Silva
Ocupante
Honório Barbosa
Colaborador

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